30.12.06

Inúmeras

[NOVE - inédita]

Limites

O real

O estado da arte

Os lugares da arte

Arte/Palavra

Participação

Underground/Paralelo/off/Alternativo/ etc.

Só não me perguntem onde está a capa da SEIS...

29.12.06

Bienallis ou "Como? Viver Junto?"



E lá se foi mais uma Bienal. A cada edição é a mesma coisa: surgem discussões e polêmicas inevitáveis, seja a partir do tema da mostra [estupidamente obrigatório, a meu ver], seja em torno da consistência do projeto curatorial, ou mesmo da museografia do evento. Eventualmente até se fala dos trabalhos... E esta edição de 2006 não fugiu à regra, naturalmente. Este ano, contudo, houve algumas novidades: pela primeira vez ocorreu algo próximo de um processo seletivo para o cargo de curador da mostra, que, embora pudesse ter apresentado mais transparência em seus critérios, não deixa de ser um avanço em relação ao [não]modelo anterior.
As idiossincrasias em questão tenderam a se concentrar no discurso curatorial de Lisette Lagnado e sua proposta, "Como viver junto", alegadamente [e vagamente] amparada em conceitos de [seminários de] Roland Barthes e da algo inefável "plataforma para a vida", de Hélio Oiticica, e em sua tradução na exposição. Aí começam os problemas, e olha que ainda não estamos falando da exposição em si.
Se reclamava-se, em bienais recentes, de uma lacuna conceitual ou 'falta de coerência' nas curadorias, disso não se pode queixar no que toca à 27ª: a exposição em si traduz ostensivamente o corpus teórico que teria impulsionado e conformado a proposta. Ou melhor dizendo: a título de justificar, ou apresentar o mote que embasa a curadoria, francamente amparado na boa e velha dicotomia "arte e vida", agora supostamente "atualizada" via estética relacional e escultura social [não assumidamente nestes termos, ainda que a meu ver bastante sintéticos do que se desenrolou na Bienal], a sensação que se têm é que a montagem se converte numa tentativa - em alguns momentos esquizofrênica - de ilustrar o tal conceito, tornando árdua a experiência de apreciação da mostra. Uma Bienal árida, do ponto de vista da fruição estética. E não me refiro à "fruição estética" nos termos saudosistas ou "affonsoromanosantanistas" de uma "busca pelo belo", ou da promessa de epifanias geradas pela experiência do sublime [afinal, estamos falando de arte contemporânea]: apenas constato a ausência de trabalhos que pudessem ser apreciados, ou experimentados, por instâncias da ordem singela do "prazer para os olhos". Até porque, afinal de contas, a Bienal também é um "evento para as massas", sobretudo depois da recente gratuidade no ingresso, e poderia-se minimizar a frustração do público que procura essa experiência sem comprometer o projeto teórico que respalda o evento. Sei que essa observação soa em alguma medida pueril e conservadora, mas...afinal, pra que ficar cobrando esse tipo de qualidade de obra s numa Bienal tão cheia de trabalhos plenos de boas intenções, não é mesmo?
O que nos leva a um segundo problema. Por trás da propalada "plataforma para a vida" de Oiticica, que nortearia o projeto [anti]estético da mostra, e que tal como ali apresentada a mim evoca mais a já referida escultura social de Beuys que os interstícios entre a experiência da arte e a esfera da vida que boa parte da obra de Hélio buscava, é nítido o investimento em uma linha curatorial que exalta a "função social da arte". Muito em voga na atualidade, ainda que com os contornos imprecisos, ou no mínimo "alargados", que seu próprio enunciado incute, essa vertente - se podemos assim chamá-la - ganhou um novo alento a partir de conceitos e plataformas teóricas como a Estética Relacional, tal como cunhada pelo francês Nicholas Bourriaud, se referindo a um modelo de prática artística que grosso modo valorizaria a construção de estruturas ambientais e sistêmicas baseadas em um relacionamento interpessoal alternativo, "conjugando subjetividades individuais na geração de significados coletivos". Em termos práticos, os trabalhos que melhor traduziriam esse conceito na 27ª Bienal são os mesmos que nos fazem pensar nas tais "boas intenções".
Obras ou proposições imbuídos dos melhores propósitos assistencialista-humanitários [sejam estes conformados a partir de discursos mais convocatórios a ações de cunho ativista-libertário -"transformadores"- ou de denúncia como por abordagens mais, digamos, suaves, de matizes 'sócio-antropológicos' - evidenciado em 90% da fotografia exibida no evento e na forte presença de projetos envolvendo elementos arquiteturais], e que em função deste aspecto se apresentam ao público como que pré-investidas de uma aura protetora, um "verniz" que inclusive as impermeabiliza de qualquer crítica. Seria o caso do projeto Eloisa Cartonera ["mas é arte ou criação de frentes de trabalho?"], do lamentável "trabalho" perpetrado a partir das atividades do misto de grife e ONG [bacana] carioca Daspu, os pratos 'coloridos-interativos' do Antoní Miralda, bem como das obras de Rirkrit Tiravanija e Minerva Cuevas, dentre outros. E, bem, como isso já se estendeu em demasia,talvez seja o caso de abrir outro tópico para tentar concluir mais apropriadamente a questão 27ª Bienal...[continua?]







Que venha...






Nosso amigo Frank teve um dia ruim no trânsito. E o pior, está com o vocabulário um tanto defasado...já estamos no "pós-humano", rapaz.
Mas o que importa é a atitude correta e o espírito combativo. Vai lá, Frank, pega eles, dude!

14.9.06

KapoorVapoor

Vi a mostra do Anish Kapoor no CCBB do Rio. A "coluna vaporosa" dele faz o maior sucesso com o público. Será que vão montar esse trabalho dele aqui, quando a mostra vier pra Sampa? Por que esse espaço do CCBB/Rio é tão "specific"...




22.8.06

Cragg em Sampa

Fui ver a exposição de Tony Cragg, recém-aberta em Sampa. Se não me engano, é a terceira individual dele por aqui, sempre no mesmo local [galeria Thomas Cohn]. Eis que chego -sabiamente- atrasado ao vernissage, num sábado à tarde, e a galeria está às moscas. Após uma breve [e vã] reflexão sobre o porquê do descaso da "classe" para com o privilégio de ver a obra de um dos 5 maiores artistas vivos, na modesta opinião deste escriba, dividido entre a indignação e o alívio [pela possibilidade de uma contemplação digna das obras], pus-me a circular pela mostra. Estranhei a ausência de uma peça que me pareceu fascinante [uma verde-jade, meio "alienígena"], das que constavam no catálogo ["não pôde vir"], mas pouco importa - o cara continua mandando muito bem.

A imponência de uma tradição escultórica latente é amortecida por uma sedutora via algo subversiva, manifesta tanto no emprego/combinação surpreendente de procedimentos e materiais como no humor discreto que resulta e se pode entrever aqui e ali. As duas tônicas se imiscuem e alternam num rito perversamente envolvente, que joga com a ambigüidade que as peças transmitem. E mais não falo, preferindo recomendar a experiência in loco.















Fotos Guy A.

10.8.06

A FORCE MORE POWERFUL - Um game diferente

Poderia um game ajudar pessoas a aprender a combater ditadores, ocupações militares e governantes corruptos – não com armas laser ou AK-47s, mas por meio de estratégias não-militares e não-violentas?

Esse game existe, e se chama A Force More Powerful – the Game of Nonviolent Strategy, a primeira e única ferramenta interativa no campo dos conflitos não-violentos. Desenvolvida pelo The International Center on Nonviolent Conflict e por game designers da empresa BreakAway Ltd., o jogo é calcado em estratégias e táticas aplicadas com sucesso em conflitos ao redor do mundo.

Apresentando cenários inspirados na história recente, AFMP simula situações de conflito em que se apregoam a força de ideais libertários e dos direitos humanos contra ditadores, colonizadores e regimes corruptos, bem como campanhas por direitos políticos e humanos. O game visa propiciar uma "experiência de mundo real", permitindo que os jogadores adotem estratégias, apliquem táticas e avaliem os resultados.

Sgundo seus criadores, "AFMP foi concebido para pessoas que queiram usar a ação não-violenta em suas próprias lutas por direitos humanos e liberdade. O jogo também se presta como um valioso modelo de simulação para estudos academicos em resistência não-violenta, bem como uma ferramenta educativa para setores da sociedade civil e qualquer um que se interesse por aprender mais sobre o poder da utilização estratégica do conceito de ação não-violenta". AFMP é um game single-player, em que o participante assume o papel de estrategista-chefe de um movimento não-violento contra oponentes diversos – controlados por inteligência artificial - em até dez cenários pré-definidos. À medida em que o jogador evolui no jogo, ampliando os recursos materiais e humanos do movimento que comanda, recrutando novos membros e construindo alianças, ele também aprende o valor do planejamento estratégico e de uma cuidadosa formulação de objetivos e táticas.

Se o jogo vai "pegar", mesmo junto a um público-alvo mais específico, como parece se destinar num primeiro momento, ainda não se tem como saber. Mas fica o exemplo de novos rumos e possibilidades no terreno do chamado entretenimento eletrônico, atualmente o maior segmento em faturamento no ramo do entretenimento em âmbito mundial.


3.6.06

Proposta de alteração do léxico


Mais uma proposta de alteração da Língua Portuguesa, face ao advento do internetiquês:

Eis aqui um programa, em cinco etapas, para a adaptação gramatical e ortográfica da Língua Portuguesa às instigantes transformações do léxico que a Internet vem estimulando. Seguindo sempre a tendência a uma simplificação das coisas - afinal, o português é mesmo uma língua muito complexa -, ao invés de se investir em melhorias estruturais no ensino em geral, estamos certos de que esta medida se inscreve com perfeição na dinâmica de tempos "pós-humanos" que atravessamos.

Para não atemorizar aqueles poucos que ainda prezam pela grafia correta, nem deixar mais confusos os que se esforçam em aprendê-la, tudo será feito de forma gradual e progressiva, assim como o processo de desmantelamento da cultura de modo geral vem sendo conduzido. Vamos à proposta:

No primeiro ano, o "Ç" vai substituir o "S" e o "C" sibilantes, e o "Z" o "S" suave. Peçoas que açeçam a internet com frequênçia vão adorar, prinçipalmente os adoleçentes.

O "C" duro e o "QU" em que o "U" não é pronunçiado çerão trokados pelo "K", já ke o çom é ekivalente. Iço deve akabar kom a konfuzão, e os teklados de komputador terão uma tekla a menos, vê Komo a koiza fika prátika e ekonômika.

Haverá um aumento do entuziasmo por parte do públiko no çegundo ano, kuando o problemátiko "H" mudo e todos os acentos, inkluzive o til, seraum eliminados. O "CH" çera çimplifikado para "X" e o "LH" pra "LI", ke da no mesmo e e mais façil. Iço fara kom ke palavras como "onra" fikem 20% mais kurtas e akabara kom o problema de çaber komo çe eskreve xatiçe.

Da mesma forma, o "G" ço çera uzado kuando o çom for komo em "gordo", e çem o "U" porke naum çera preçizo, ja ke kuando o çom for igual ao de "G" em "tigela", uza-çe o "J" pra façilitar ainda mais a vida da jente.

No terçeiro ano, a açeitaçaum publika da nova ortografia devera atinjir o estajio em ke mudanças mais komplikadas serão poçiveis. O governo vai enkorajar a remoçaum de letras dobradas que alem de desneçeçarias çempre foraum um problema terivel para as peçoas, que akabam fikando kom teror de soletrar. Alem diço, todos konkordaum ke os çinais de pontuaçaum komo virgulas dois pontos aspas e traveçaum tambem çaum difíçeis de uzar e preçizam kair e olia falando çerio já vaum tarde.

No kuarto ano todas as peçoas jah çeraum reçeptivas a koizas komo a eliminaçaum do plural nos adjetivo e nos substantivo e a unificaçaum do U nas palavra toda ke termina kom L como fuziu xakau ou kriminau ja ke afinau a jente fala tudo iguau e açim fika mais faciu.

No kintu anu akaba a ipokrizia de çe kolokar R no finau dakelas palavra no infinitivo ja ke ningem fala mesmo e tambem U ou I no meiu das palavra ke ningem pronunçia komu pur exemplu roba toca e enjenheru e de uzar O ou E em palavra ke todu mundu pronunçia como U ou I, i ai im vez di çi iskreve pur ezemplu kem ker falar kom ele vamu iskreve kem ke fala kum eli ki e muito milió çertu? os çinau di interogaçaum i di isklamaçaum kontinuam pra jente çabe kuandu algem ta fazendu uma pergunta ou ta isclamandu ou gritandu kom a jenti e o pontu pra jenti sabe kuandu a fraze akabo.

Naum vai te mais problema ningem vai te mais eça barera pra çua açençaum çoçiau e çegurança pçikolojika todu mundu vai iskreve sempri çertu i çi intende muitu melio i di forma mais façiu e finaumenti todos vau çabe iskreve direitu ate us jornalista us publiçitario us blogeru us adivogado us iskrito i ate us pulitiko i u prezidenti, ki maravilia.

Iço s/ fala di abrevçs, q eh mto baum, a gte vai tkla rpdaum, blz?


[adapitadu di pôst original de RUA 7]

10.5.06

Saia chorando


Um trabalho recente no último Panorama do MAM-SP consistia num enorme painel na fachada do museu tal como reproduzido na imagem acima, com a diferença que a última frase era "e ganhe R$ 1,00 de desconto no preço do ingresso". Acredito que o artista [Luciano Mariussi, um cara do Paraná de quem já vi coisas bem interessantes] quisesse com isso tensionar em alguma medida as instâncias "institucionais-elitistas" em torno da arte contemporânea, etc, jogando com a ambigüidade e ironia supostamente bem-humorada da proposta. Mas convenhamos: da maneira como originalmente grafado, não parece haver grandes possibilidades desta mesma tensão se ver efetivada. Num primeiro momento cheguei mesmo a pensar se tratar de mais uma estratégia de marketing do próprio MAM, que tem apostado já há alguns anos em uma linha de publicidade [lamentavelmente] "engraçadinha"; fiquei em dúvida sobre o que seria pior, se fosse de fato isso ou se uma "obra de arte". O fato é que ainda não cheguei a uma conclusão.
Se o artista agregasse ao trabalho os registros dos infelizes que se dispuseram a abraçar a "proposta" [em vídeo, sei lá], assumindo a dimensão do escracho e a premissa de "semi-performance in progress" que parecem nortear a obra, quem sabe alguma coisa mudasse nas impressões finais...

24.4.06

Encontros improváveis 1: divagações



Assistindo a um documentário sobre Paco Rabanne, outro dia, descobri uma faceta por mim desconhecida do estilista espanhol: a da intensa experimentação, até certo ponto ousada, que caracterizou sua produção inicial. Arquiteto por formação, Rabanne assumia seu diletantismo em moda, em meados dos 60's, sustentando que os interesses estéticos que o impulsionavam inicalmente acabaram desembocando nessa linguagem meio que fortuitamente.
Vendo algumas de suas peculiares criações desta época, com o uso de materiais como metal, vidro e plástico, entrevia-se um desejo em diluir ou ao menos tensionar as fronteiras entre alta-costura e, digamos, "o mundo das coisas".
E então me pus a divagar sobre o que poderia ter ocorrido numa eventual associação - de natureza absolutamente imprevisível, claro - entre Rabanne e Hélio Oiticica, sobretudo - e obviamente - envolvendo os Parangolés deste último. Para além das afinidades meramente "fisionômicas" que os vestidos de Rabanne e os experimentos "artístico-sócio-culturais" de Hélio podem guardar, há algo nas inquietações de ambos que sugere uma aproximação ou parceria potencialmente interessante. Mas não ouso ir muito além de lançar esse insight, ao menos por ora, até por não ter respaldo adequado para verificar pertinência da "associação". Afinal, o terreno da especulação, especialmente neste limbo de silício, é sedutor por permitir esse tipo de devaneio sem maiores compromissos...

19.4.06

Rapinante entrevista BenêBrasa

PAU PRA TODA OBRA
É provável que você nunca tenha ouvido falar nele, mas talvez já o tenha visto em cena: Ebenezer Prado, ou Benê Brasa, como é mais conhecido, é o "homem das dez polegadas". A singela alcunha refere-se a seus, digamos, dotes anatômicos singulares, que muito vêm fazendo pelo cinema pornô brasileiro. Seu currículo já engloba cerca de 150 filmes, em quase treze anos de atividade no ramo. Aos 38 anos e em boa forma, com curso superior incompleto ("larguei a faculdade de psicologia para me dedicar só aos filmes"), o astro do hot-underground nascido em Ponta Grossa (PR) divide uma discreta mas confortável cobertura em Santa Cecília (zona central de São Paulo) com Johnny, seu cão labrador.

Rapinante: Como você foi parar no ramo do cinema pornô?

Benê Brasa: Acho que fui um predestinado (ri). Desde criança sempre fui amarrado em cinema, e na adolescência descobri que tinha uma obsessão por sexo. Era caso clínico mesmo, com internação e tudo, tipo essas coisas (sic) de estrelas de Hollywood. Esses fatores, mais minhas... (hesita) "qualidades" anatômicas, e pronto, lá estava eu. Por assim dizer tratando um problema e sendo pago para isso.

R: Então você parece ser mesmo um privilegiado: um sexômano ganhando para fazer sexo...

BB: (sorrindo) É verdade, mas as coisas não são assim tão simples e agradáveis. É trabalho, antes de tudo. Quando se está em cena, sob o calor dos refletores, com a equipe em cima e a parceira embaixo (risos), você só tem em mente que não pode falhar... Tem que ser tudo muito profissional.

R: Como você se apresenta para as pessoas? Você sofre algum tipo de preconceito?

BB: Olha, no início eu tinha alguma dificuldade com isso. Ainda existe muito preconceito com tudo que se refira a sexo. Mas com o tempo passei a lidar mais tranqüilamente com a coisa. Até porque considero minha atividade um ganha-pão como qualquer outro, e sou feliz fazendo o que faço. Mas dependendo da ocasião continuo me anunciando apenas como "ator".

R: Esse pseudo-tabu ainda existente acerca de tudo que envolve sexualidade é curioso, principalmente depois da pós-modernidade e o clima de permissividade que ela ajudou a instaurar em várias áreas...

BB: É verdade. Você veja o Bush, os EUA fo*endo com o Iraque, por exemplo [risos]. O sujeito fod* com o mundo inteiro, na maior metáfora possível da grande pu*aria que virou a "política neoliberal" imperialista [brados empolgados do entrevistador], e tudo bem, afinal "é em nome da liberdade" ou coisa que o valha. Já eu prefiro o modo mais tradicional e inofensivo – e prazeroso - de fazer isso [mais risos]. Mas agora sério, algumas leituras me ajudaram muito a entender um pouco mais de sexualidade, Foucault, Reich, Freud, caras assim.

R: Você conhece e lê esses autores? [surpreso] Não condiz muito com o perfil esperado de um ator do seu, digamos, calibre, eheh...[risos]

BB: [rindo] Pois é, eu sei. Parece que quem trabalha nesse ramo não pode ter direito a ambicionar um nível de cultura geral minimamente acima dos "Big Brothers" da vida...mas paciência. Procuro ser discreto a esse respeito [risos].

R: E seus familiares? Como encaram sua opção profissional?

BB: Bem, não vou dizer que tive grande incentivo pelo lado da família (risos). Mas eles também nunca se incomodaram muito com o fato, e hoje sei que me respeitam no que faço. Meu irmão mesmo, que é um acadêmico, é um grande fã, tem uma dúzia de filmes meus em casa (risos).

R: Como você avalia a situação deste mercado hoje? Ganha-se bem na sua área de atuação?

BB: Me considero muito bem remunerado, principalmente quando vejo a situação geral do país, com tanta instabilidade e desemprego. Pude fazer um bom pé-de-meia nesses mais de 15 anos no ramo. Ao contrário do chamado "cinema sério", os filmes eróticos não perdem a força; têm sempre um público cativo, principalmente no filão do vídeo doméstico, que é o forte desse negócio.

Nome: Ebenezer Mastrocola Prado

Nascido em Ponta Grossa (PR), 1966.

Contato: pontafirme@hothot.com

(Entrevista concedida ao Rapinante em 27/11/2005)

6.4.06

Banksy action




Alguns dos poderosos graffiti do grande Banksy na muralha do Sharon [lado palestino, claro]...

5.4.06

Pílulas de lucidez niilista


- A tarefa atual da arte é introduzir o caos na ordem.

- A emergência de toda obra de arte contradiz o pronunciamento segundo o qual ela não mais poderia aparecer.

- A grandeza de uma obra de arte está fundamentalmente no seu caráter ambíguo, que deixa ao espectador decidir sobre o seu significado.

- A arte tem tudo a perder menos o niilismo da impotência.

-...a castração da percepção por instâncias de controle que lhe recusam toda antecipação desejante, obriga-a por isso mesmo a inserir-se no esquema da repetição impotente do que já é conhecido.[...] Uma vez suprimido todo traço de emoção, o que resta do pensamento é apenas a absoluta tautologia.

- Ainda que se lhe concedesse aquela recomendação discutível de que a exposição deve reproduzir exatamente o processo de pensamento, este processo não seria uma progressão discursiva de etapa em etapa, assim como, inversamente, tampouco os conhecimentos caem do céu. Ao contrário, o conhecimento se dá numa rede onde se entrelaçam prejuízos, intuições,[...] antecipações e exageros; em poucas palavras, na experiência, que é densa, fundada, mas de modo algum transparente em todos os seus pontos.

Theodor Adorno, in Minima Moralia.

3.4.06

DECADENT ACTION Manifesto

Decadent Action pode ser o homem [ou a mulher] sentado perto de você no bar, na fila do cinema ou na livraria; eles têm dinheiro em seus bolsos e traquinagens em suas cabeças. Decadent Action é a principal organização de guerrilha anarquista cujo objetivo é destruir o sistema capitalista por meio de uma maciça campanha que prega o bem-estar e gastos excessivos. Planejamos atingir nossas metas promovendo a derrocada do capitalismo por sua própria espada; se você ignorar ou simplesmente negar sua existência, o capitalismo não irá embora, mas uma vez super-alimentado por tempo suficiente poderá entrar em colapso e implodirá. Partimos do princípio econômico simples de produção e demanda e sua relação intrínseca com a inflação para estabelecer nossas teorias. O estado deve controlar estes fatores afim de gerenciar de modo eficiente a economia; insira uma nova carta no jogo – gastos irracionais maciços aparentemente aleatórios em bens de consumo luxuosos – e o governo se torna incapaz de controlar a situação. Isso leva à hiper-inflação e inquietação em larga escala social, levando à desintegração do aparato estatal e colapso do sistema monetário. E como você pode se envolver nessa conspiração de falência governamental sem grandes esforços e sem sujar as mãos? Bem, a resposta é simples: gastar, gastar, gastar! Arrume dinheiro, e gaste-o; simples como isto. Abaixo listamos dez mandamentos que o ajudarão a se tornar um legítimo decadente e a colaborar na ruína do sistema monetário como lhe convenha.
1.Descontos são para perdedores; quando o sistema monetário entrar em colapso suas poucas provisões no banco se tornarão inúteis. Tire tudo e gaste por aí, nas oportunidades que a noite da metrópole oferece. Podemos sugerir alguns hotéis e restaurantes, dependendo de sua localização; ou, se preferir, simplesmente escolha o local mais caro próximo a você, peça aquela lagosta a thermidor e trufas belgas a la bonne maniére e ataque aquele champanhe vintage sem culpa.
2. Comprar é sempre divertido, e você nunca tem roupa cara o suficiente; compre sem culpa aquele Dior ou Versace – só os melhores e mais sofisticados designers – que há tanto tempo lhe seduz. As palavras 'dry clean only' são o que buscamos/procuramos, e roupas finas de qualidade se encontram em qualquer grande cidade. Roupas chiques e estilosas podem introduzi-lo em todos os lugares certos (e errados) e ajudá-lo a convencer outros ricaços a soltar uma grana para nossa causa.
3. Patrocínio governamental e/ou privado é sempre um ótimo jeito de armar uma gastança generalizada. E pode vir de muitas formas – assistência pública, financiamento a empreendimentos, bolsas e subvenções, chantagem e suborno; tudo isso é, antes de tudo, dinheiro para gastar. Experimente começar verificando quão rápido você pode descontar seu cheque de seguro-desemprego num bar ou similar.
4. Nunca, nunca mesmo, aceite chocolate com menos de 60% de cacau sólido. Ackermans, Mars ou Green and Blacks são as marcas que você deve procurar consumir. 5. O crédito é amigo do decadente. É inflacionário, é dinheiro livre, é divertido de gastar. Cartões de crédito são ideais, seus ou de outra pessoa. Agora disponíveis em qualquer grande banco, tudo que você tem que fazer é convencê-los de que pode arcar com os gastos, simples assim. Quando o sistema monetário ruir seu débito irá simplesmente desaparecer. Tente ter sempre consigo pelo menos uma dúzia deles. 6. Comprar sem dinheiro é parte essencial de nosso plano/estratégia. Viu, gostou, comprou. Nunca aceite não como resposta. 7. Passe adiante a mensagem decadente sempre que tiver oportunidade. Recomendamos escrever, estampar ou gravar em cédulas bancárias com slogans pró-consumo apropriados como 'gaste, gaste, gaste' e 'compre agora, rebele-se depois'. 8. Terrorismo e violência contra o estado podem trazer certa diversão e satisfação, mas certifique-se de estar sempre com o equipamento adequado para o serviço. Carabinas de grosso calibre são rústicas e podem danificar suas (caras) roupas. Enfim, se você vai atirar num policial esteja certo de estar usando uma boa arma. 9. A culpa e a moral cristã não tem lugar em nossa filosofia. Deixe isso pra lá e parta direto para a baixaria; passe no sex shop da esquina e bote pra fora o pequeno demônio que existe em você. 10. Escolha as influências e heróis certos – aceite nossa dica e passe o dia das próximas eleições na cama, tomando uns Alexanders ou margueritas, ouvindo algo estimulante e mergulhe em leituras como Baader-Meinhoff, Chomsky, Susie Bright, Harry Roberts, Valerie Solanas, Guy A. Debord, Ken Knabb, Viv Nicholson e outros agitadores do mundo todo. O parco valor do salário mínimo ou tópicos dessa natureza não são uma de nossas preocupações, quando queremos que todo o sistema venha abaixo, quando visamos sua derrocada.
Estas são apenas alguns tópicos ou procedimentos que poderão ajudar na guerra contra o sistema monetário. Se você porventura desejar receber nossa publicação, The Decadent, envie um envelope selado para o endereço abaixo. Convites para restaurantes caros, vinhos finos, champanhe e presentes em geral também são bem-vindos.

Decadent Action, BM Decadence, London WC1N 3XX


1.4.06

Os primórdios da "Morte"


"A arte é, pois, incapaz de satisfazer a nossa última exigência de Absoluto. Já, nos nossos dias, se não veneram as obras de arte, e a nossa atitude perante as criações artísticas é fria e refletida. (...) Os bons tempos da arte grega e a idade de ouro da última Idade Média são idos. (...) Em todos os aspectos referentes ao seu supremo destino, a arte é para nós coisa do passado. Com sê-lo, perdeu tudo quanto tinha de autenticamente verdadeiro e vivo, sua realidade e necessidade de outrora, encontra-se agora relegada na nossa representação. (...) O que, hoje, uma obra de arte em nós suscita é, além do direto aprazimento, um juízo sobre o seu conteúdo e sobre os meios de expressão e ainda o grau de adequação da expressão ao conteúdo."

Georg Hegel, 1820 e poucos

Só pra gente lembrar onde e quando começou essa "discussão"...

31.3.06

Capotando


Fui ver Capote e achei um pouco meia-boca. Corretinho, bem filmado, é verdade, com o Philip Seymour Hoffman se esbaldando num papel "feito pra ele". O Philip sem dúvida é muito bom ator e gosto bastante dele, mas parece já estar entrando naquela "síndrome de De Niro", "reinterpretando-se" ad nauseum, com os maneirismos afetados que ele domina tão bem. A linha que separa um especialista em personagens afetados e o estigma pode ser tênue...
A
impressão que fica é a de que o filme foi um pretexto para arranjar um papel principal pro Seymour Hoffman levar um Oscar. Pena que ao invés de explorar o arco da vida e das frivolidades estimulantes que cercam um personagem tão rico como foi o polêmico Truman [apenas sugeridas no filme], optou-se por se ater a um making of pseudo-intimista do A Sangue Frio [que é mesmo um livraço], uma decisão talvez movida por expectativas de marketing, acerca do impacto que a "pegada sensacionalista" teria, com o final apresentando aquela mensagem relativamente "redentora". Sei lá, achei meio frustrante. Mas pode ter sido só o velho problema de conflito de expectativas...