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E lá se foi mais uma Bienal. A cada edição é a mesma coisa: surgem discussões e polêmicas inevitáveis, seja a partir do tema da mostra [estupidamente obrigatório, a meu ver], seja em torno da consistência do projeto curatorial, ou mesmo da museografia do evento. Eventualmente até se fala dos trabalhos... E esta edição de 2006 não fugiu à regra, naturalmente. Este ano, contudo, houve algumas novidades: pela primeira vez ocorreu algo próximo de um processo seletivo para o cargo de curador da mostra, que, embora pudesse ter apresentado mais transparência em seus critérios, não deixa de ser um avanço em relação ao [não]modelo anterior.As idiossincrasias em questão tenderam a se concentrar no discurso curatorial de Lisette Lagnado e sua proposta, "Como viver junto", alegadamente [e vagamente] amparada em conceitos de [seminários de] Roland Barthes e da algo inefável "plataforma para a vida", de Hélio Oiticica, e em sua tradução na exposição. Aí começam os problemas, e olha que ainda não estamos falando da exposição em si.
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Obras ou proposições imbuídos dos melhores propósitos assistencialista-humanitários [sejam estes conformados a partir de discursos mais convocatórios a ações de cunho ativista-libertário -"transformadores"- ou de denúncia como por abordagens mais, digamos, suaves, de matizes 'sócio-antropológicos' - evidenciado em 90% da fotografia exibida no evento e na forte presença de projetos envolvendo elementos arquiteturais], e que em função deste aspecto se apresentam ao público como que pré-investidas de uma aura protetora, um "verniz" que inclusive as impermeabiliza de qualquer crítica. Seria o caso do projeto Eloisa Cartonera ["mas é arte ou criação de frentes de trabalho?"], do lamentável "trabalho" perpetrado a partir das atividades do misto de grife e ONG [bacana] carioca Daspu, os pratos 'coloridos-interativos' do Antoní Miralda, bem como das obras de Rirkrit Tiravanija e Minerva Cuevas, dentre outros. E, bem, como isso já se estendeu em demasia,talvez seja o caso de abrir outro tópico para tentar concluir mais apropriadamente a questão 27ª Bienal...[continua?]
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5 comentários:
cadê o resto do "[continua]"...?!
...era pra ser "continua um dia desses".
continua aí cara!
Concordo com as suas colocações. Inclusive acho que Oiticica teria revirado os olhos em horror ao politicamente correto desta bienal. Arte só faz boa política quando faz ótima arte.
Sabe o que realmente decepcionou? Não acho que seja a presença do político, pois toda a nossa classe artística alienada em seus ateliês refrigerados precisa acordar de vez para o mundo, se os gringos já acordaram, por que nós do Brasilzão selvagem e assassino e da maior desigualdade social do mundo não vamos acordar? O que realmente decepcionou foi a falta e não a presença de estética relacional. Onde estavam os relacionamentos? Onde estavam as trocas? Onde houve interstício (nas palavras de Bourriaud)? Toda esta arte é meio que uma criação de performance, de colaboração, com o presencial do artista. Tudo que eu vi foi registro, não a própria obra ali, sendo realizada, como um jantar tailandês do Rikrit, é o que me pareceu.
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