19.4.06

Rapinante entrevista BenêBrasa

PAU PRA TODA OBRA
É provável que você nunca tenha ouvido falar nele, mas talvez já o tenha visto em cena: Ebenezer Prado, ou Benê Brasa, como é mais conhecido, é o "homem das dez polegadas". A singela alcunha refere-se a seus, digamos, dotes anatômicos singulares, que muito vêm fazendo pelo cinema pornô brasileiro. Seu currículo já engloba cerca de 150 filmes, em quase treze anos de atividade no ramo. Aos 38 anos e em boa forma, com curso superior incompleto ("larguei a faculdade de psicologia para me dedicar só aos filmes"), o astro do hot-underground nascido em Ponta Grossa (PR) divide uma discreta mas confortável cobertura em Santa Cecília (zona central de São Paulo) com Johnny, seu cão labrador.

Rapinante: Como você foi parar no ramo do cinema pornô?

Benê Brasa: Acho que fui um predestinado (ri). Desde criança sempre fui amarrado em cinema, e na adolescência descobri que tinha uma obsessão por sexo. Era caso clínico mesmo, com internação e tudo, tipo essas coisas (sic) de estrelas de Hollywood. Esses fatores, mais minhas... (hesita) "qualidades" anatômicas, e pronto, lá estava eu. Por assim dizer tratando um problema e sendo pago para isso.

R: Então você parece ser mesmo um privilegiado: um sexômano ganhando para fazer sexo...

BB: (sorrindo) É verdade, mas as coisas não são assim tão simples e agradáveis. É trabalho, antes de tudo. Quando se está em cena, sob o calor dos refletores, com a equipe em cima e a parceira embaixo (risos), você só tem em mente que não pode falhar... Tem que ser tudo muito profissional.

R: Como você se apresenta para as pessoas? Você sofre algum tipo de preconceito?

BB: Olha, no início eu tinha alguma dificuldade com isso. Ainda existe muito preconceito com tudo que se refira a sexo. Mas com o tempo passei a lidar mais tranqüilamente com a coisa. Até porque considero minha atividade um ganha-pão como qualquer outro, e sou feliz fazendo o que faço. Mas dependendo da ocasião continuo me anunciando apenas como "ator".

R: Esse pseudo-tabu ainda existente acerca de tudo que envolve sexualidade é curioso, principalmente depois da pós-modernidade e o clima de permissividade que ela ajudou a instaurar em várias áreas...

BB: É verdade. Você veja o Bush, os EUA fo*endo com o Iraque, por exemplo [risos]. O sujeito fod* com o mundo inteiro, na maior metáfora possível da grande pu*aria que virou a "política neoliberal" imperialista [brados empolgados do entrevistador], e tudo bem, afinal "é em nome da liberdade" ou coisa que o valha. Já eu prefiro o modo mais tradicional e inofensivo – e prazeroso - de fazer isso [mais risos]. Mas agora sério, algumas leituras me ajudaram muito a entender um pouco mais de sexualidade, Foucault, Reich, Freud, caras assim.

R: Você conhece e lê esses autores? [surpreso] Não condiz muito com o perfil esperado de um ator do seu, digamos, calibre, eheh...[risos]

BB: [rindo] Pois é, eu sei. Parece que quem trabalha nesse ramo não pode ter direito a ambicionar um nível de cultura geral minimamente acima dos "Big Brothers" da vida...mas paciência. Procuro ser discreto a esse respeito [risos].

R: E seus familiares? Como encaram sua opção profissional?

BB: Bem, não vou dizer que tive grande incentivo pelo lado da família (risos). Mas eles também nunca se incomodaram muito com o fato, e hoje sei que me respeitam no que faço. Meu irmão mesmo, que é um acadêmico, é um grande fã, tem uma dúzia de filmes meus em casa (risos).

R: Como você avalia a situação deste mercado hoje? Ganha-se bem na sua área de atuação?

BB: Me considero muito bem remunerado, principalmente quando vejo a situação geral do país, com tanta instabilidade e desemprego. Pude fazer um bom pé-de-meia nesses mais de 15 anos no ramo. Ao contrário do chamado "cinema sério", os filmes eróticos não perdem a força; têm sempre um público cativo, principalmente no filão do vídeo doméstico, que é o forte desse negócio.

Nome: Ebenezer Mastrocola Prado

Nascido em Ponta Grossa (PR), 1966.

Contato: pontafirme@hothot.com

(Entrevista concedida ao Rapinante em 27/11/2005)

2 comentários:

danieli disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
danieli disse...

(sempre achei o d. m. - que coisa, nunca tinha notado que eram exatamente as minhas iniciais - com cara de ator pornô)