29.3.06

Dos "arte-coletivos"



Do meu ponto de vista essa questão dos 'ajuntamentos' de artistas embute um dado importante que acho que costuma ser solapada.
É certo que a idéia de artistas trabalharem ou manterem formas de ação em grupo ou coletivos não é nova nem no Brasil nem no mundo (pode-se pensar nos pré-rafaelitas, nos fauves, nos dadá, etc.) nem tampouco esgotada - e certamente não é malvinda, em princípio.
O ponto é que esse tipo de movimentação/articulação em 'coletivos' (e há uma insistência nesse termo, o que parece em muitos casos reforçar uma pretensa postura 'anti-sistema' ou de levantar bandeiras 'artivistas' ou proto-revolucionárias) deveria se contituir, a meu ver, de forma muito mais ESPONTÂNEA e natural do que parece vir efetivamente acontecendo de uns 5, 6 anos pra cá. De repente parece que este tipo de dinâmica se torna uma prerrogativa, a ser alcançada a todo custo... Tem coletivos-grupos-ligas-confrarias de artistas pipocando semanalmente aqui e ali. Eu mesmo, pela minha, digamos, profissão, tentei acompanhar mais de perto essa cena (sim, já existe uma cena) há um tempo até que desisti, resignado, tamanha a profusão de iniciativas similares.
E na esteira desse ritmo alucinado se esquece de avaliar as ações e 'produtos práticos' desses grupos, frequentemente limitados a ações simpáticas e irreverentes e só - como se o mais importante fosse a iniciativa de se unir em um coletivo em si, ou a adesão a determinado slogan.
Repito que em princípio acho um formato de ação saudável e potencialmente produtivo (eu mesmo integro espécies de 'coletivos de crítica' na revista Numero e em grupos na MariAntonia e CCSP); só que passei a observar com alguma desconfiança a compulsividade frenética que assola a dinâmica de conformação desses grupos de artistas, bem como a heterogeneidade e pobreza de 'resultados' de algumas destas iniciativas - bem como as frequentes contradições em discursos 'anti-sistema' e mesmo 'antiarte' e os evidentes anseios em integrar esse mesmo sistema.

Um comentário:

ariel disse...

Eu concordo com você. Eu, por exemplo, gosto muito quando consigo fazer trabalhos de arte na rua, e nem sempre em coletivos...

Mas eu penso a questão de forma um pouco ampla também. Sem querer me apoiar demais no conhecido clichê: arte de qualidade, não importa o medium, não é sempre. Muitos destes coletivos tem mesmo o caráter amador. Houve um tempo que todo mundo se julgava fotógrafo e montava um estúdio de fotografia. Muitas pessoas montam bandas em garagens, e, eu acho, que os coletivos de arte pública também são uma espécie de extroversão cultural pseudo-engajada. Refletem do ponto de vista da cultural determinada tendência. Mas é só isso.